quinta-feira, 30 de maio de 2013

Não ultrapasse a faixa Amarela

Juninho era um jovem que adorava questionar regras, quebrar limites.
Ele gostava de dizer que olhava no espelho e via um rebelde com causa. Qual causa? Todas as possíveis e imagináveis.
Só estava feliz se estivesse causando uma agitação popular. Dentro de si, a cada regra desafiada, a cada norma desrespeitada, enxergava como se estivesse enfrentando o pai, militar sisudo que tanto o repreendera durante sua infância.
Uma de suas maiores diversões era irritar os funcionários do Metrô,  brincando de passar a faixa amarela e voltar antes de o trem passar.
Ele adorava quando um funcionário falava pelo sistema de som:
  -  Atenção!  Na plataforma, a faixa amarela é a sua segurança! Somente a ultrapasse quando o trem abrir as portas.
Juninho ia ao delírio quando sentia a raiva na voz do funcionário.
Naquele dia Juninho estava particularmente atacado. Fez um auê danado na faculdade, o que resultou em uma suspensão que o fez ir pra casa mais cedo.
Resolvido a descontar sua raiva nos funcionários do Metrô, começou sua brincadeira favorita: avançava até passar a faixa amarela e dava um rodopio, voltando pouco antes de ultrapassar a faixa branca e cair na via.
Fez a brincadeira uma, duas, três vezes. Saiu rapidamente ao ver uma dupla de seguranças vindo em sua direção.
Voltou tão logo os seguranças deram as costas mas, desta vez, no primeiro
rodopio, algo diferente aconteceu.
Sentindo uma inesperada tontura, Juninho desequilibrou-se. O peso da mochila - cheia de livros da faculdade que ele não se preocupava em abrir - começou a puxá-lo mais e mais para trás.
Daí o mundo começou a andar em câmera lenta pra Juninho: ele sentiu por instantes seu corpo flutuar sem peso, até atingir com força o chão. Sua cabeça bateu contra o chão,  doendo horrores e piorando a tontura.
Completamente zonzo, levantou-se. Olhou para o lado, espantou-se ao ver a imagem do pai, falecido há tantos anos:
  - Hoje é o dia de você aprender, meu filho, que algumas regras não foram feitas para serem quebradas. - E, dizendo isso, apontou para trás de Juninho.
Juninho olhou na direção que o pai apontava.
Sequer teve tempo de ver o trem vindo em sua direção

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