sábado, 22 de março de 2014

North Point University


Oi, meu nome é Matheus, já faz um tempinho que essa história aconteceu comigo, eu não tinha contado pra quase ninguém, mas quando eu vi estourar essa onda das Creepypastas, resolvi deixá-la aqui pra quem quisesse saber.
Bem, meu tio é e sempre foi um geek típico da Velha Guarda. Desde o começo dos anos 80, ele sempre colecionava de quadrinhos de super-herói a videogame. Até hoje ele mantém uma espécie de mini-museu em um quarto de sua casa, com seu Atari, NES, Super Nintendo, Mega Drive, seus respectivos cartuchos e uma penca de disquetes e CD's de games para PC. Desde pequeno eu adorava ver sua coleção, e quando fiquei mais velho comecei a pedir emprestados alguns de seus games de PC para experimentar no meu. Certa vez, levei para casa um CD branco com "N.P UNIVERSITY" escrito nele, com marcador laranja, em uma capinha de plástico comum. Cheguei na minha casa no final da tarde e já tinha colocado o game para experimentar.
Uma janela do DOS abriu por uma fração de segundo e sumiu. Tentei pelo meu emulador e ele abriu uma janela preta, com a palavra "chair" escrita. Eu sabia o que isso queria dizer, eu precisava do cartão de códigos pra inserir a resposta correspondente. Pesquisei no Google e encontrei uma página de fórum só com grupos de páginas dedicados a jogos obscuros ou antigos. No grupo de N.P UNIVERSITY havia uma página de fórum para os iniciantes no jogo, sendo que um dos auxílios que eles nos dava era a lista de códigos. Percebi também que outra página tinha o nome "Sobre a morte do cara". Provavelmente era algum spoiler do jogo, mas de qualquer forma eu senti um arrepio leve ao ver o nome daquela página. Mas enfim, minimizei a tela do Chrome e voltei ao emulador para inserir o código.
Um texto branco apareceu logo abaixo do código e dizia o seguinte, em inglês:

"Bem-vindo a N.P UNIVERSITY!!!

O procedimento desse jogo é bem simples, veja por você mesmo e interaja como quiser.
De qualquer forma ainda duvido que você vai querer passar por todo o horror que está neste CD.
Continue por sua conta e risco.
Jim Fuzz Omega Epslon Studios - 1994"

Estranhei a parte do "horror". O próprio desenvolvedor do game estava dizendo que o jogo era horrível? Talvez fosse apenas um jogo de terror, mesmo. De qualquer forma, já estava meio desanimado pois parecia ser mais um daqueles jogos de texto, e eu não tinha muita paciência pra esse tipo de coisa. No entanto, quando apertei ENTER uma tela apareceu.
Era um ambiente 3D em primeira pessoa, uma tecnologia incrivelmente recente em 1994. Não estava certo se havia som, talvez tivesse algum ruído distorcido que seria o vento, mas estava muito baixo. O suposto personagem estava em um ambiente meio escuro frente a uma parede cinza com uma porta, na verdade estava mais para um retângulo verde, sem maçaneta nem qualquer detalhe. Não havia mais paredes, as demais direções davam a espaços escuros inacessíveis. Sobre a porta da parede estava escrito, em letras vermelhas "North Point University". Sem mais o que fazer no cenário, fui em direção à porta.
Pela primeira vez percebi algo repulsivo no game, o som que ele fazia toda vez que se cruzava uma porta, um som ascendente, que lembrava ao mesmo tempo uma pessoa prestes a vomitar e um par sinistro de notas tocadas em um órgão, e veio tão de súbito que senti um aperto no coração. Eu tinha chegado a uma sala bem maior do que o primeiro ambiente do jogo. Era praticamente um espaço quadrado com várias portas e algumas reentrâncias. Quase todas as portas eram verdes, exceto uma que era vermelha, ao fim de um dos corredores, cheguei perto dela, mas nada aconteceu, parei na sua frente sem ser transportado pra lugar nenhum. Então fui rumo a uma porta verde qualquer.
Quando cheguei à frente dela, apareceu uma caixa de texto dizendo "Coding Class", ao que ouvi outra vez aquele som horrível.
Agora meu personagem estava frente a um computador antigo, com uma tela preta cheia de letras verdes, ilegíveis pela distância e baixa qualidade do jogo, eu também não podia mais me mexer. Percebi que em quanto eu teclava, as letras apareciam na tela do computador do game, e quando eu apertava "ENTER", o computador apitava e o texto apagava. Fui fazendo isso por algum tempo, tentando combinações de letras diferentes e textos aleatórios, o computador do jogo continuava apitando até que sua tela apagou de vez e eu pude mover meu personagem. Eu estava em uma espécie de laboratório de computação, cheio de bancadas com máquinas como a em que eu estava. No fundo da sala havia mais uma porta verde, na qual eu entrei.
Estava mais uma vez na sala das portas, frente à mesma porta pela qual entrei, que agora estava vermelha também. Sem pensar muito, fui pra porta verde mais próxima.
Uma caixa de texto mostrou: “Professor’s room”.
Era a menor sala que eu já tinha visto até então, e a única que tinha uma pessoa, um senhor de terno e bigode em pixels bidimensionais. Ele ficava lá, estático, sem mexer sequer os olhos, só uma imagem de enfeite atrás de uma mesa. Virei para ver se havia alguma saída. Só outra porta vermelha. Então saí xeretando pela sala clicando em qualquer coisa. Percebi que aparecia um texto toda vez que eu clicava em um objeto novo do ambiente, como se fossem falas do professor, e todas elas eram um tanto frias e depressivas.
“Você sabe que não vai aprender nada aqui, certo?” disse quando cliquei na sua pilha de livros.
Cliquei no diploma de doutorado na parede: “Isso vale bem menos do que parece”.
Cliquei nos relatórios da mesa: “Esses trabalhos só servem pra mostrar que vocês estão fazendo alguma coisa”.
Cliquei no computador: ”Uma máquina incrível que ninguém vai nunca saber usar... Muito menos se continuar por aqui...”
Cliquei no próprio professor: ”Desculpe, minha função não é te dar propósito, mas se você achar, traga um pra mim também.”
E fui clicando em todos os outros objetos na sala, todos com os mesmos comentários sarcásticos do professor. Olhei à volta e vi que a porta de entrada estava verde. Voltei mais uma vez à sala das portas.
Pensei no texto de abertura do game: “... todo o horror que está neste CD...”, “... Continue por sua conta e risco.” Mas eu não tinha visto nada de sombrio ou assustador desde então, aliás, nada que impressionasse de qualquer forma, era só um ambiente 3D interativo e muito chato. Me perguntei se o “horror” então estaria na porta vermelha que eu nunca pude abrir, talvez eu precisasse explorar todas as outras pra chegar lá. Então passei a entrar em cada uma e elas também não tinham nada de especial em relação às outras: “Classroom”, “Restaurant”, “Debate Room”... Uma coisa que todas tinham no entanto, eram os comentários frios e sarcásticos, agora aparentemente dito pelo próprio personagem, coisas do tipo “Que droga...” ou “Até me masturbar seria algo mais produtivo do que isso”. Uma sala que eu achei interessante era “My new home”, que ficava bem onde estava a entrada da faculdade. Era um simples dormitório com uma mesa e uma televisão. Cliquei na janela de fundo: “Essa cidade é um cu”, nas camas: “Espero que meu colega de quarto não ronque nem peide essa noite” e em um quadrado marrom sobre um prato na mesa: “A especialidade do chef: Sanduíche de feijão frio”. Também estranhei o “Experimental Physics Lab”, era uma sala de painéis com um vidral no fundo, atrás do qual havia uma plataforma e um martelo automático. O que me chamou a atenção foi que quando eu cliquei no vitral apareceu uma caixa de texto dizendo: “Legal. Esse martelo deve esmagar umas mil toneladas, pena que eu não posso entrar lá”. No entanto esse foi o único destaque da sala e depois de interagir com tudo simplesmente saí de lá, como fazia com a maioria das salas.
Eventualmente tinha entrado em todas as portas e interagido com tudo no jogo, com exceção da porta do corredor, que agora era a única. Quando cheguei à metade do corredor, apareceu mais uma caixa de texto: “Finalmente alguma diversão”. Depois cheguei a porta e outra caixa me informou:”Chemistry Lab”, “Laboratório de Química”.
Era uma sala ampla cheia de bancadas e algumas estantes, mas nada de especial também. Quando cheguei ao meio dela, apareceu mais uma caixa de texto:”The happiest place in Earth”. Mais uma vez fui interagindo com os objetos da sala, fazendo com que mais textos aparecessem, mas dessa vez nenhum deles tinha mais os comentários ácidos de antes, pelo contrário, pareciam mais animados e otimistas: ”Estou tão feliz de ter chegado aqui”, “É hora do show.”, “É mesmo um ótimo dia pra brincar”. Agora sim, achei que aquele jogo estava começando a ficar estranho. No entanto, quando cliquei na estante, a tela ficou preta e o jogo acabou.
Uma última mensagem apareceu, em letras brancas:
“Parabéns por ter chegado até aqui, você realmente sobreviveu bem a tudo. E um último conselho: Nunca ponha os pés em uma universidade.
Jim Fuzz 14/04/1994 10:42pm”
E a tela permaneceu assim até que eu fechei o emulador. Era só isso o jogo? Eu não conseguia entender. Saí pra tomar um café e voltei logo depois. Resolvi dar outra olhada na pasta do jogo. Só então que eu reparei que havia outro executável em uma das pastas do CD: “truth.exe”. Abri, por curiosidade.
Uma tela preta pediu uma senha, merda. Voltei ao fórum do N.P. UNVERSITY e encontrei um tópico com o mesmo nome do arquivo. Entrei e vi que o primeiro post dele já mostrava a senha pra rodar o executável: “chemistry”. Inseri a senha na tela preta e um monte de texto rodou em uma velocidade que não dava pra acompanhar, até que a janela fechou. Rodei meu computador pra ver se o executável tinha deixado algo nele e de fato tinha, meu desktop agora estava com vários arquivos de texto e imagens novos. Abri um por um. Eles diziam respeito a uma faculdade interiorana nos EUA, North Point University, um instituto focado em engenharia e tecnologia. Percebi que algumas fotos lembravam vagamente alguns cenários do jogo, como o laboratório de computação e a sala do professor. Também havia arquivos sobre o estúdio do jogo, Omega Epslon Studios, criado por três estudantes da mesma faculdade, cujos apelidos eram Jack6969, Arnie Omega e Jim Fuzz. Os três tinham feito vários programas e animações na faculdade, e o jogo seria o último projeto deles, feito no começo do último ano do curso. Finalmente abri o último arquivo, um arquivo de imagem chamado “TrueEnd.png”
Era o scan de uma notícia de jornal, da mesma North Point University, datada de 16 de abril de 1994. Falava de um cadáver de um aluno que fora encontrado no laboratório de química, assim que a escola fora aberta no dia anterior.
“James Norton Jr foi encontrado sobre uma bancada do laboratório de Química. Só tinha consigo um CD com os dizeres ‘entregar a Jack e Arnie’. A perícia identificou a morte como envenenamento por cianeto, por volta das 10:50pm da noite retrasada. A polícia fechou o caso alegando suicídio. Segundo familiares, colegas e professores de Norton, o jovem vinha mostrando sintomas de depressão desde que entrou na faculdade, em 91. Os destinatários do CD foram identificados como Jack P. Foreman e Arnold J. Smith, colegas de classe e amigos próximos de Norton.”
Voltei ao fórum do game e lá encontrei um print da mesma tela de encerramento do jogo, com a mesma nota “Jim Fuzz 14/04/1994 10:42pm” Foi então que eu percebi que datava de poucos minutos antes do suposto suicídio de James e senti um arrepio ainda mais forte. Depois disso, finalmente entendi a ideia do jogo, James não suportava sua vida de universitário, então se dedicou a criar um game que expusesse seu trauma. Lembrei então da última fase, o laboratório de Química, o único lugar em que o personagem do jogo. Ele estava feliz por que iria se livrar de tudo, se suicidando.
Fiquei parado na minha cadeira, por vários minutos, talvez horas. Não conseguia fazer nada, a perplexidade por aquela história tétrica me paralisava. Às vezes, cheguei a sentir um calafrio, como se o fantasma de Jim me rodeasse. Quando finalmente consegui organizar minhas ideias, eu recolhi o CD, quebrei-o em dois e o joguei no lixo. Queria ter o mínimo de lembranças dessa história estúpida. Ainda sinto arrepios, mesmo agora, que digito essa história. Se eu fechar meus olhos agora, juro que posso me sentir dentro do ambiente do jogo, daquelas salas escuras e caricatas, como se o fantasma de Fuzz ainda estivesse aqui, como se ele quisesse me por em sua pele para eu ver tudo que ele sofreu. Até hoje eu tento dizer para mim mesmo que essa história foi toda um devaneio, uma memória bizarra que apareceu na minha mente, um pesadelo que apareceu lá, mas não consigo me convencer.

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Créditos ao João Pedro Alves, o qual enviou a creepy pra nós.

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